A cachaça, uma das bebidas mais tradicionais e apreciadas no Brasil, tem um processo de produção complexo e delicado que exige conhecimento e prática para garantir a qualidade e o sabor únicos. Neste guia, exploraremos cada etapa da fabricação da cachaça, desde a escolha da matéria-prima até a destilação, com foco nas melhores práticas para obter uma cachaça de alta qualidade.
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Regulamentação
A produção de cachaça no Brasil é regulamentada de forma rigorosa, refletindo a importância cultural e econômica dessa bebida no país. A Lei nº 13.834/2019, conhecida como a Lei da Cachaça, define cachaça como “um destilado alcoólico típico e exclusivo do Brasil, obtido a partir da fermentação e destilação do caldo de cana-de-açúcar”, com teor alcoólico entre 38% e 48% em volume.
O decreto nº 6.871/2009 regula aspectos técnicos e define os requisitos para a denominação de origem da cachaça, diferindo-a de outros destilados de cana, como o rum. Essa legislação assegura que o termo “cachaça” só seja utilizado para produtos fabricados exclusivamente no Brasil, reforçando a autenticidade e qualidade do produto nacional no mercado internacional.
A fiscalização e a regulamentação do setor são supervisionadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que também estabelece normas sobre as práticas de produção, armazenamento, engarrafamento e rotulagem da cachaça. Para assegurar a conformidade com os padrões de qualidade, o MAPA realiza auditorias e inspeções periódicas nas destilarias.
Outra importante instituição envolvida é o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), responsável pela concessão do selo de Denominação de Origem, que protege a cachaça como um produto genuinamente brasileiro. Essas regulamentações e órgãos de fiscalização são fundamentais para proteger o mercado interno, além de assegurar a reputação da cachaça brasileira nos mercados internacionais. Para mais detalhes sobre as regulamentações, você pode acessar as diretrizes do MAPA aqui e o site do INPI aqui.
Produção de cachaça:
1. Seleção da Matéria-Prima
A escolha da matéria-prima é um dos passos mais críticos na produção da cachaça. A cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) é a base da bebida e, por isso, sua qualidade e características influenciam diretamente o sabor final.
Variedades de Cana para Cachaça
Existem diversas variedades de cana-de-açúcar, mas algumas são mais adequadas para a cachaça devido ao seu teor de açúcar e perfil aromático. As variedades RB867515, SP80-3280 e IACSP95-5000 são populares entre os produtores pela resistência a pragas e alto rendimento.
Ponto de Maturação Ideal
Para obter o melhor rendimento, a cana deve ser colhida no ponto ideal de maturação. Geralmente, a cana atinge esse ponto entre 12 e 18 meses de cultivo, dependendo das condições climáticas e do tipo de solo. Colher a cana no momento certo garante uma fermentação mais eficiente e um sabor final equilibrado.
Frescor da Cana e Colheita
A qualidade da cana-de-açúcar diminui rapidamente após a colheita. Por isso, é essencial que a moagem ocorra o mais breve possível para preservar o frescor e a qualidade do caldo. A colheita pode ser feita de forma manual ou mecanizada, sendo que a manual evita a contaminação com terra e outros materiais indesejados, que podem interferir na fermentação.
2. Moagem da Cana-de-Açúcar
A moagem da cana é a etapa em que o caldo (garapa) é extraído e preparado para a fermentação. Esse processo exige equipamentos limpos e ajustados para maximizar o rendimento e a qualidade do caldo.
Processo de Extração do Caldo
A cana é introduzida nos moedores ou trituradores, onde o caldo é extraído. Esse processo precisa ser realizado de forma controlada para evitar a perda de nutrientes e garantir a qualidade do produto final.
Limpeza e Manutenção dos Equipamentos
É essencial manter os equipamentos de moagem limpos e bem conservados para evitar contaminações que podem comprometer a fermentação. Resíduos acumulados podem interferir no sabor da cachaça, além de provocar problemas de higiene. Limpezas regulares e a manutenção preventiva garantem um ambiente adequado para a produção.
Análise do Rendimento e Qualidade do Caldo
A eficiência da moagem é medida pelo rendimento do caldo em relação à quantidade de cana processada. Um bom rendimento indica que a extração está ocorrendo de forma adequada. Após a extração, é recomendável realizar uma análise do caldo para medir o teor de açúcar e verificar a necessidade de ajustes.
3. Fermentação
A fermentação é a fase em que o açúcar presente no caldo da cana é transformado em álcool por meio da ação de leveduras. Essa etapa é crucial para definir o perfil aromático da cachaça, e, por isso, precisa ser realizada com precisão e controle.
Fermentação Natural vs. Leveduras Selecionadas
Existem dois tipos de fermentação usados na produção de cachaça:
- Fermentação Natural: Utiliza leveduras nativas presentes no ambiente. Esse método preserva os aromas naturais, mas pode ser mais instável.
- Leveduras Selecionadas: Consiste na adição de culturas específicas de leveduras, garantindo um processo mais previsível e controlado.
Cada tipo de fermentação confere características distintas à cachaça, e a escolha depende do perfil que o produtor deseja alcançar.
Controle de Temperatura e Higiene
O controle da temperatura durante a fermentação é essencial. O ideal é manter entre 25°C e 30°C, para evitar a produção de aromas indesejados e o comprometimento do rendimento. Além disso, a higienização do ambiente e dos equipamentos de fermentação é essencial para prevenir a contaminação por bactérias e outros microorganismos.
Impacto do Antiespumante
Na fermentação da cachaça, a formação de espuma é um problema comum. Essa espuma pode causar transbordamento e reduzir a eficiência da fermentação. Para evitar isso, muitos produtores utilizam antiespumantes que controlam a formação de espuma sem interferir no processo.
Problemas Comuns na Fermentação
Além da formação de espuma, outros problemas podem ocorrer, como o aumento de acidez e a presença de sabores indesejados, que afetam a qualidade final. Monitorar regularmente o processo ajuda a identificar e corrigir essas questões.
4. Destilação
A destilação é o processo pelo qual a cachaça é separada em frações, removendo impurezas e garantindo a pureza do produto. Esse é um dos processos mais delicados e decisivos para a qualidade da bebida.
Tipos de Destilação: Alambique de Cobre e Coluna
A cachaça pode ser destilada em alambique de cobre ou em coluna:
- Alambique de Cobre: Utilizado em produções artesanais, proporciona um perfil aromático mais complexo.
- Coluna: Mais comum em produções industriais, permite maior controle do processo e maior rendimento.
A escolha do tipo de destilação depende dos objetivos de cada produtor, sendo o alambique de cobre preferido para cachaças artesanais e o de coluna para produções em larga escala.
Frações: Cabeça, Coração e Cauda
Durante a destilação, a cachaça é separada em três frações:
- Cabeça: Primeira fração, que contém compostos mais voláteis e tóxicos, deve ser descartada.
- Coração: Fração central e de maior qualidade, sendo o que constitui a cachaça propriamente dita.
- Cauda: Fração final, que possui compostos menos voláteis, também é descartada.
O corte preciso entre essas frações é essencial para garantir uma bebida pura e de alta qualidade.
Controle de Temperatura e Fluxo de Destilação
Durante a destilação, o controle de temperatura é fundamental. O ideal é manter a temperatura ajustada para evitar a contaminação com compostos indesejados. Além disso, o fluxo de destilação deve ser constante para assegurar que o coração seja separado da forma mais pura possível.
4. Maturação e Envelhecimento
O envelhecimento é uma etapa opcional na produção da cachaça, mas é essencial para desenvolver sabores e aromas mais complexos, tornando o produto final mais sofisticado e valorizado. A cachaça pode ser maturada em diferentes tipos de madeira, cada uma conferindo características únicas à bebida.
Tipos de Barris e Madeiras Utilizadas
Os barris de carvalho são os mais utilizados, especialmente para cachaças envelhecidas e premium, devido ao seu sabor suave e notas de baunilha e especiarias. Outras madeiras brasileiras, como amburana, jequitibá e bálsamo, também são populares e proporcionam perfis aromáticos únicos. Cada madeira contribui com compostos específicos que influenciam o sabor, a cor e a textura da bebida.
Tempo de Envelhecimento e Classificação
O tempo de envelhecimento influencia diretamente a qualidade e o preço da cachaça. No Brasil, a legislação classifica as cachaças em:
- Prata ou Branca: Sem envelhecimento ou armazenada em tanques de inox.
- Ouro ou Amarela: Envelhecida por um mínimo de 12 meses em barris de madeira.
- Envelhecida: Pelo menos 50% do volume deve ser envelhecido em barris de até 700 litros por, no mínimo, um ano.
- Extra Premium: Envelhecida por mais de três anos, alcançando sabores mais ricos e intensos.
Influência do Envelhecimento no Sabor e Aroma
O processo de envelhecimento permite que a cachaça absorva compostos voláteis da madeira, como taninos e ligninas, responsáveis por sabores adocicados, amadeirados e aromas característicos. O envelhecimento também suaviza a bebida, removendo a aspereza do álcool puro.
5. Filtragem e Engarrafamento
Após a maturação, a cachaça passa por processos de filtragem e engarrafamento para garantir sua pureza e manter suas características sensoriais até o consumo.
Filtragem
A filtragem é um processo que remove partículas e impurezas do líquido, mantendo a aparência límpida da cachaça. Alguns produtores optam por uma filtragem leve para preservar os aromas, enquanto outros realizam uma filtragem mais intensa para evitar sedimentos. A escolha da técnica de filtragem deve levar em conta o perfil desejado para a cachaça e seu público-alvo.
Procedimentos de Engarrafamento
O engarrafamento exige equipamentos específicos e cuidados rigorosos para preservar a qualidade do produto. A escolha do recipiente é fundamental, sendo comum o uso de garrafas de vidro com rolhas ou tampas que garantem a vedação. A exposição prolongada à luz e ao calor pode afetar a qualidade da cachaça, por isso o armazenamento após o engarrafamento é igualmente importante.
6. Controle de Qualidade e Certificações
A cachaça é regulamentada pela legislação brasileira, que define critérios rigorosos de qualidade para assegurar a segurança e autenticidade do produto. Este controle de qualidade vai desde a escolha da matéria-prima até o produto final.
Certificações e Padrões de Qualidade
Para que uma bebida seja considerada cachaça, ela deve obedecer aos padrões estabelecidos pelo Mapa – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Entre os requisitos, estão o teor alcoólico entre 38% e 48% em volume e a produção exclusivamente no Brasil, diferenciando-a de outros destilados de cana.
Rotulagem e Normas Legais
A rotulagem é um aspecto importante do controle de qualidade e deve incluir informações obrigatórias, como o teor alcoólico, volume, e a denominação de origem (Cachaça do Brasil). Além disso, cachaças envelhecidas devem informar o tempo de envelhecimento e o tipo de madeira dos barris.
Importância da Rastreabilidade
A rastreabilidade garante que cada etapa da produção é documentada, permitindo que o produto final seja identificado em caso de problemas de qualidade. Testes de controle de qualidade são realizados em várias etapas para assegurar que a cachaça atende aos padrões do mercado e da legislação.
7. Inovações na Produção da Cachaça
A indústria da cachaça tem evoluído com a implementação de novas tecnologias e práticas que aprimoram a produção e tornam o processo mais eficiente e sustentável.
Tecnologias Emergentes em Destilação e Fermentação
Muitos produtores têm investido em tecnologias de controle automatizado de temperatura e pressão para garantir uma fermentação e destilação consistentes. Equipamentos modernos permitem monitoramento em tempo real, reduzindo o risco de falhas e aumentando a eficiência da produção.
Sustentabilidade na Produção
O setor de cachaça tem se adaptado às demandas por sustentabilidade, buscando alternativas como o reaproveitamento dos resíduos da cana-de-açúcar, redução de consumo de água e minimização de emissões de CO₂. O bagaço da cana, por exemplo, é utilizado como combustível em algumas destilarias, reduzindo a necessidade de fontes de energia externas.
Antiespumantes e Outras Soluções para o Processo de Fermentação
Para melhorar a fermentação e evitar problemas como a formação excessiva de espuma, que pode interromper o processo, muitos produtores utilizam antiespumantes industriais. Essas substâncias ajudam a controlar a espuma sem afetar o perfil de sabor da bebida, contribuindo para uma fermentação mais eficiente e estável.
8. Conclusão
A fabricação da cachaça é um processo que une tradição e inovação. Cada etapa – da escolha da matéria-prima à destilação e envelhecimento – exige conhecimentos específicos e muita dedicação para produzir uma bebida de qualidade. Com as inovações tecnológicas e a crescente demanda por produtos sustentáveis, a indústria da cachaça se adapta aos novos tempos, preservando ao mesmo tempo as práticas tradicionais que tornam a cachaça uma bebida única no mercado mundial.